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Fernão Lopes, o guardador das escrituras do Tombo

Última atualização em Junho 12, 2022

Teve estudos, sabe-se que foi escrivão e em 1418 nomeado “guardador das escrituras do Tombo”, cargo que conservou até à “reforma” (1454). Foi também tabelião-geral.

As suas qualidades e valimento na corte conseguiram-lhe novos cargos: “escrivão dos Livros” do Infante D. Duarte, de D. João I e de D. Fernando. Recebeu o encargo de escrever as crónicas dos reis de Portugal, antes de 1434.

Pelas várias tenças que recebeu, pode considerar-se um alto funcionário público, valido da casa real e figura de relevo na época. D. João I nobilitou-o e passou a ser “vassalo do rei”.

Para escrever as “crónicas” dos reis até D. Fernando, dispunha Fernão Lopes, além de todo o vasto material arquivístico da Torre do Tombo, dos livros de memórias já publicados até D. Pedro.

Começou por elaborar as crónicas que requeriam trabalho original, e assim, iniciou-as por D. Pedro, D. Fernando e D. João.

Utilizou crónicas estrangeiras, Ayala principalmente, e algumas crónicas parcelares portuguesas, hoje perdidas, consultou arquivos doutros pontos do País, deslocando-se por mosteiros, cartórios e igrejas, a buscar informações.

 Deixou bastante incompleta a crónica de D. João I, acabada por Zurara, que lhe deu o estilo. A sua origem popular, com desconfiança por tudo o que era nobreza ou alto clero, deu-lhe um sentido crítico que o fez incomparável no panorama do tempo e temperou-lhe as subserviências do Paço.

As melhores páginas históricas de Fernão Lopes são talvez as da “crónica de D. Fernando”, sobretudo quando se referem a factos controláveis e isentos de partidarismos. 

Pena foi que Fernão Lopes não dispusesse de tempo bastante para refundir por completo as crónicas dos reis anteriores a D. Pedro.

Do valor literário de Fernão Lopes, diremos só: o seu poder evocativo e descritivo, o seu sentido de movimento, sobretudo quando individualiza as massas ou personaliza uma cidade como Lisboa, tornam-no num dos escritores mais notáveis de todos os tempos.

Adaptado de Serrão, Joel – Dicionário de História de Portugal