Os operários que trabalhavam nas obras dos templos eram relativamente favorecidos, pois tinham alimentação e roupa fornecidas pelo Estado. Por incúria e preguiça dos escribas, nem sempre o serviço de abastecimento funcionava em condições. Então os operários uniam-se e faziam greve.
A PRIMEIRA GREVE DOCUMENTADA
(Em Tebas, cerca de 1170 a.C.)
Os operários que trabalhavam nas obras dos templos eram relativamente favorecidos, pois tinham alimentação e roupa fornecidas pelo Estado. Por incúria e preguiça dos escribas, nem sempre o serviço de abastecimento funcionava em condições. Então os operários uniam-se e faziam greve.
O texto que se segue é, sobre este assunto, elucidativo.
«Ano 29 – 2.° mês da segunda estação, dia 10. Neste dia, aconteceu que os operários transpuseram os cinco muros da necrópole aos gritos de «Nós temos fome!». Sentaram-se nas traseiras do templo de Thutmósis III, no limite entre as terras cultivadas e o deserto. Os três guardas e os seus ajudantes vieram insistir para que voltassem para o recinto da necrópole, fazendo-lhes grandes promessas: «Podeis voltar ao trabalho; nós temos a palavra do Faraó».
Porém, os grevistas não cedem durante três dias. «Nós viemos aqui forçados pela fome, pela sede e pela falta de vestuário. Já não temos azeite, nem peixe, nem legumes! Dai conhecimento disto ao Faraó, nosso bom deus, e ao vizir, nosso senhor».
As rações do mês foram então distribuídas no oitavo dia da greve.
(…)
Ano 29 – de Pashons, dia 2.
Foram dadas as duas medidas de trigo aos operários para alimentação do primeiro Pashons.
O operário-chefe Khons diz aos camaradas: «Vede! Eu bem vos disse:
apoderai-vos dos víveres; descei ao porto, ao torreão. Os homens do governador participar-lhe-ão».
Depois, o escriba Amonnakhtou mandou dar-lhes os víveres que estavam armazenados no porto, tal como lhes havia prometido.
Depois de um dos armazéns ter sido aberto à força, o escriba Amonnakhtou censurou-os, dizendo: «Porque haveis forçado a entrada do porto? Eu próprio vos dei os cereais em devido tempo. Agora, ide, ou tomar-vos-ei responsáveis por qualquer artigo roubado.»
Do diário de um guarda da necrópole de Tebas, segundo o Papiro do Museu de Turim, cito in. F. CHABAS, «Mélanges egyptalagiques» e in J. A. WILSON, «L’Egypte, vie et mart d’une civilisatian», Paris, Ed. Arthaud, pág. 260.