Última atualização em Junho 12, 2022
A região situada entre o Tejo e o Ártabro é habitada por 50 tribos. Apesar de a terra ser rica em frutos, gado, ouro e prata, os habitantes preferiam à sua cultura o roubo e viviam permanentemente em guerra uns com os outros e com os vizinhos do outro lado do Tejo.
Só os Romanos puseram termo a isto; transformaram povoados fortificados em aldeias abertas e levaram também algumas tribos para melhores terras. [ … ]
A norte do Tejo estende-se a Lusitânia, habitada pela mais poderosa das nações ibéricas e que entre todas por mais tempo deteve as armas romanas. [ … ]
Até agora, nem o ouro, nem a prata, nem o cobre, nem o ferro se encontraram em outra parte tão abundantes e excelentes. [ … ]
Os Lusitanos são excelentes para armar emboscadas e descobrir pistas, são ágeis e destros. O escudo de que se servem é pequeno, só com dois pés de diâmetro, a parte anterior é côncava [ … ]. Armam-se com um punhal ou grande faca; a maioria tem couraças de linho. [ … ]
Os Lusitanos sacrificam frequentemente aos deuses, examinam as entranhas sem as arrancar do corpo das vítimas, observam também as veias do peito e tiram certas indicações do simples contacto.
Consultam até em certos casos as entranhas humanas, servindo-se para isto dos prisioneiros de guerra, que revestem previamente duma veste para o sacrifício [ … ].
Todos estes montanheses são sóbrios, bebem geralmente só água, deitam-se no chão [ … ]. Nas três quartas partes do ano, o único alimento na montanha são as glandes de carvalho, que, secas, quebradas e pisadas, servem para fazer pão, que pode guardar-se por muito tempo.
Alguns bebem uma espécie de cerveja feita com cevada; o vinho é raro e o pouco que se fabrica é em breve consumido nos grandes banquetes de família, tão frequentes entre estes povos. Em vez de azeite servem-se de manteiga. [ … ]
Nas terras interiores só se conhece, pela carência de moedas, o comércio de troca, ou então cortam-se lâminas de prata em bocadinhos, que se dão em pagamento do que se compra.
Estrabão, historiador e geógrafo grego (sécs. I a. C. – I d. C.), Geografia